Manifesto de quem ficou
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Manifesto de quem ficou
Manifesto de quem ficou
O bar onde os copos eram bebidos não é o mesmo sem aquela gargalhada ruidosa da amiga que partiu, a ida ao cinema é agora desmoralizante pois a companhia da mão dada está a mais de 2000 quilómetros de distância
Se há consequência da crise que já se tornou assunto de Estado (com direito a afirmações infelizes e tudo) é a emigração, acima de tudo, a jovem. Fenómeno de espanto caricato, visto que moramos num país que desde “o tempo dos Afonsinhos” vê os seus partir em barquinhos em tudo semelhantes a cascas de noz com velas, mas que, ultimamente, tem levado a debates alongados, reportagens especiais e cartas ao presidente.
E porquê? Porque se desde os anos 30 e 40 quem vemos partir são os filhos do monte ou da lezíria, com pouca ou nenhuma escolaridade, que partem em busca do sonho americano à portuguesa e que aceitavam as parcas condições de trabalho oferecidas, agora, partem os inteligentes, os doutores, os meninos dos olhos dos seus pais. E, sem nunca desvalorizar as saudades, e o aperto no peito onde o coração português bate pedindo sardinhas e sol de Inverno, eu pergunto: então e quem fica?
Quem fica, espera, desespera, aguenta-se, suspira saudades. Quem conhece a simbologia das chamadas Borboletas de Viana? Estes corações invertidos usados ao peito por tantas moças de faces rosadas e bravos feitios do Norte de Portugal guardam em si a mais singela e intensa das mensagens: coração que vai e coração que fica. E não é que ainda hoje continua a ser assim, mesmo com toda a parafernália electrónica a nosso dispor que ajuda (ou vai ajudando) a enganar as saudades?
As notícias de que um amigo ou amiga se vai aventurar na sua casquinha de noz chegam agora a ser semanais, coisa que antes não acontecia e, se acontecia, era motivo de festa e noitada até às tantas porque essa pessoa tinha recebido uma proposta de encher os olhos e os bolsos. Agora, a parte comum entre quem saiu da sua aldeia e quem sai da sua capital é a noção de que nem sempre sabem ao que vão mas que vão (espera-se) para melhor. Deixam os amigos, os amores, a família, o café da rua com pão quente o dia todo, a praia onde vão desde pequeninos, o bar onde se encontram com os amigos, o campo onde todos os domingo era dia de jogar à bola.
E para quem fica, o bar onde os copos eram bebidos não é o mesmo sem aquela gargalhada ruidosa da amiga que partiu, a ida ao cinema é agora desmoralizante pois a companhia da mão dada e da cabeça encostada no ombro está a mais de 2000 quilómetros de distância e jogar à bola tornou-se um bico-de-obra pois a conta nunca fica certa. São estes os pequenos nadas, estas “garantias do dia-a-dia”, que quem fica também se vê privado pois se há pessoas cuja ausência se torna suportável e até necessária, outras há, em que a simples falta daquela companhia de todas as horas muda o sabor do pastel de nata que já não é comido com o mesmo gosto. Sei lá, há coisas que já não sabem ao mesmo. Acho que é como diz o da cantiga: só conhecemos a falta de quem nos está perto quando estes deixam de estar.
podem ler esta cronica do publico aqui
Eu tenho familia e amigos que tiveram de ir, e em conversa com eles ja tnha dito que esta crise nao veio so trazer desgraça finaceira. veio tambem cortar relaçoes..
O Que acham? Tem familia amigos ou conhecidos que tiveram de imigrar? o que sentem?
O bar onde os copos eram bebidos não é o mesmo sem aquela gargalhada ruidosa da amiga que partiu, a ida ao cinema é agora desmoralizante pois a companhia da mão dada está a mais de 2000 quilómetros de distância
Se há consequência da crise que já se tornou assunto de Estado (com direito a afirmações infelizes e tudo) é a emigração, acima de tudo, a jovem. Fenómeno de espanto caricato, visto que moramos num país que desde “o tempo dos Afonsinhos” vê os seus partir em barquinhos em tudo semelhantes a cascas de noz com velas, mas que, ultimamente, tem levado a debates alongados, reportagens especiais e cartas ao presidente.
E porquê? Porque se desde os anos 30 e 40 quem vemos partir são os filhos do monte ou da lezíria, com pouca ou nenhuma escolaridade, que partem em busca do sonho americano à portuguesa e que aceitavam as parcas condições de trabalho oferecidas, agora, partem os inteligentes, os doutores, os meninos dos olhos dos seus pais. E, sem nunca desvalorizar as saudades, e o aperto no peito onde o coração português bate pedindo sardinhas e sol de Inverno, eu pergunto: então e quem fica?
Quem fica, espera, desespera, aguenta-se, suspira saudades. Quem conhece a simbologia das chamadas Borboletas de Viana? Estes corações invertidos usados ao peito por tantas moças de faces rosadas e bravos feitios do Norte de Portugal guardam em si a mais singela e intensa das mensagens: coração que vai e coração que fica. E não é que ainda hoje continua a ser assim, mesmo com toda a parafernália electrónica a nosso dispor que ajuda (ou vai ajudando) a enganar as saudades?
As notícias de que um amigo ou amiga se vai aventurar na sua casquinha de noz chegam agora a ser semanais, coisa que antes não acontecia e, se acontecia, era motivo de festa e noitada até às tantas porque essa pessoa tinha recebido uma proposta de encher os olhos e os bolsos. Agora, a parte comum entre quem saiu da sua aldeia e quem sai da sua capital é a noção de que nem sempre sabem ao que vão mas que vão (espera-se) para melhor. Deixam os amigos, os amores, a família, o café da rua com pão quente o dia todo, a praia onde vão desde pequeninos, o bar onde se encontram com os amigos, o campo onde todos os domingo era dia de jogar à bola.
E para quem fica, o bar onde os copos eram bebidos não é o mesmo sem aquela gargalhada ruidosa da amiga que partiu, a ida ao cinema é agora desmoralizante pois a companhia da mão dada e da cabeça encostada no ombro está a mais de 2000 quilómetros de distância e jogar à bola tornou-se um bico-de-obra pois a conta nunca fica certa. São estes os pequenos nadas, estas “garantias do dia-a-dia”, que quem fica também se vê privado pois se há pessoas cuja ausência se torna suportável e até necessária, outras há, em que a simples falta daquela companhia de todas as horas muda o sabor do pastel de nata que já não é comido com o mesmo gosto. Sei lá, há coisas que já não sabem ao mesmo. Acho que é como diz o da cantiga: só conhecemos a falta de quem nos está perto quando estes deixam de estar.
podem ler esta cronica do publico aqui
Eu tenho familia e amigos que tiveram de ir, e em conversa com eles ja tnha dito que esta crise nao veio so trazer desgraça finaceira. veio tambem cortar relaçoes..
O Que acham? Tem familia amigos ou conhecidos que tiveram de imigrar? o que sentem?
Crixus- Sócio APVIPRE
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Re: Manifesto de quem ficou
Sinto que também eu tenho que me pirar.
River raid- Membros
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Re: Manifesto de quem ficou
Também tenho familia e alguns amigos que tiveram que emigrar.
Eu própria não ponho de lado essa alternativa no futuro!
Eu própria não ponho de lado essa alternativa no futuro!
Índigo- Colaborador
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Re: Manifesto de quem ficou
Nao és o unico...River raid escreveu:Sinto que também eu tenho que me pirar.
Crixus- Sócio APVIPRE
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Localização : Grande Lisboa
Re: Manifesto de quem ficou
Vocês não me deixem cá ficar sózinho, os "irmãozinhos" de Betel e o Friend!Crixus escreveu:Nao és o unico...River raid escreveu:Sinto que também eu tenho que me pirar.
IT
Convidado- Convidado
Re: Manifesto de quem ficou
IT tu não conseguirias viver sem o Betel nem sem o teu friend de estimação!!!Investigando a Torre escreveu:Vocês não me deixem cá ficar sózinho, os "irmãozinhos" de Betel e o Friend!Crixus escreveu:Nao és o unico...River raid escreveu:Sinto que também eu tenho que me pirar.
IT
Índigo- Colaborador
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Data de inscrição : 07/05/2012
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Localização : Norte
Re: Manifesto de quem ficou
IT nao tenhas medo eu deixo te algo com que te podes entreter a fazer tiro ao alvo em alcabidexe e a norte do país.
Crixus- Sócio APVIPRE
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Re: Manifesto de quem ficou
Tiro a Alcabideche eu entendo... já a Norte não percebo, pois eu gosto tanto das gentes do Norte do país!Crixus escreveu:IT nao tenhas medo eu deixo te algo com que te podes entreter a fazer tiro ao alvo em alcabidexe e a norte do país.
IT
Convidado- Convidado
Re: Manifesto de quem ficou
Até à data, não. Graças a Deus, não.Crixus escreveu:
Eu tenho familia e amigos que tiveram de ir, e em conversa com eles ja tnha dito que esta crise nao veio so trazer desgraça finaceira. veio tambem cortar relaçoes..
O Que acham? Tem familia amigos ou conhecidos que tiveram de imigrar? o que sentem?
Mas desde muito novo que tenho instruído o meu filho para o facto de Portugal ser um país de futuro muito duvidoso. Para que ele não emigre como muitos que agora se vêm obrigados a tal, mas para que possa escolher livremente a possibilidade de ir trabalhar e fazer a sua vida no estrangeiro.
Afinal, Portugal somos nós! E os resultados são os que sabemos.
Mas eu no Burkina Faso e ele nos EUA, Austrália ou em qualquer país europeu digno desse nome, certamente que não faremos grandes danos a essas civilizações... seremos assim como aqueles remédios homeopáticos... uma ínfima gota do "mal" diluído numa qualquer solução terapêutica que, segundo dizem os adeptos dessa terapia alternativa, acaba por fazer os organismos ganharem resistências e ainda ficarem mais fortes e saudáveis...
mjp- Forista desativado
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Re: Manifesto de quem ficou
Infelizmente (ou não), tb é essa a ideia que já estamos a incutir na nossa filha.mjp escreveu:
Mas desde muito novo que tenho instruído o meu filho para o facto de Portugal ser um país de futuro muito duvidoso. Para que ele não emigre como muitos que agora se vêm obrigados a tal, mas para que possa escolher livremente a possibilidade de ir trabalhar e fazer a sua vida no estrangeiro.
Kimba- Membros
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Re: Manifesto de quem ficou
"Por mares, nunca antes navegados..."Crixus escreveu:Nao és o unico...River raid escreveu:Sinto que também eu tenho que me pirar.
Para já ainda não sinto a necessidade de ter que partir, mas se a vida assim obrigar sentiria aterrador essa decisão, ao sentir-me forasteiro num lugar que não conhecia ninguém.
(Crixus, não conhecia a tua faceta poética!!! )
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Re: Manifesto de quem ficou
IT, Ja tens creditos de consideração, bem positivos...Investigando a Torre escreveu:Tiro a Alcabideche eu entendo... já a Norte não percebo, pois eu gosto tanto das gentes do Norte do país!Crixus escreveu:IT nao tenhas medo eu deixo te algo com que te podes entreter a fazer tiro ao alvo em alcabidexe e a norte do país.
IT
Morfeu- Membros
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Idade : 47
Localização : Santo Antonio dos Cavaleiros
Re: Manifesto de quem ficou
Infelizmente, meu caro Kimba.Kimba escreveu:Infelizmente (ou não), tb é essa a ideia que já estamos a incutir na nossa filha.mjp escreveu:
Mas desde muito novo que tenho instruído o meu filho para o facto de Portugal ser um país de futuro muito duvidoso. Para que ele não emigre como muitos que agora se vêm obrigados a tal, mas para que possa escolher livremente a possibilidade de ir trabalhar e fazer a sua vida no estrangeiro.
Não estou a ver pais alguns, num país que se quer civilizado, a ter de dizer aos filhos, olha meu filho(a), estuda, faz a tua parte, atinge um grau académico que te permita uma profissão que gostes e considera seriamente a possibilidade de fazer a tua vida fora do país, porque, como já vens verificando, Portugal, infelizmente, não permite a quem não tenha conhecimentos muito bem colocados e influentes, uma situação profisional com o mínimo de estabilidade profissional, que permita aos jovens poderem estabilizar e projectar uma vida e uma carreira. Geralmente, não que seja preciso pois graças a Deus ele já há muito que percebeu, acrescento: a menos que queiras passar a vida a servir às mesas ou a tirares imperiais... a menos que tenhas personalidade para lamber botas a quem também a tem. É que, geralmente, quem as lambe, também gosta das suas muito bem lambidas...
E não se esqueçam, jovens: façam sempre contas a quanto têm de ganhar (€€€) para serem aquilo que todos vocês querem e, querem muito bem, que é serem livres e independentes. Participem no orçamento familiar das vossas famílias e façam cálculos... percebam quanto ganha um português(a) sem uma qualificação profissional, ou mesmo com ela, e percebam que com a média de vencimentos que são pagos em Portugal e face às despesas a que todos somos obrigados a fazer face, livres e independentes é que dificilmente serão. Como é que se vive em Portugal com esses ordenados? Ou são sustentados (ajudados ) por familiares... ou vivem de dinheiros marginais.... ou passam fome! De qualquer uma destas três alternativas, que bela liberdade...
E, já agora, é que desde 1580 que andamos todos à espera que "isto" melhore...
Última edição por mjp em Sex Out 04 2013, 10:02, editado 1 vez(es)
mjp- Forista desativado
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Re: Manifesto de quem ficou
o Texto não é meu, e uma cronica no jornal Publico. Ja postei isto ha algum tempo. Mas e uma realidade que eu sinto na pele, desde familia a grandes amigos.Judá Chaves escreveu:"Por mares, nunca antes navegados..."Crixus escreveu:Nao és o unico...River raid escreveu:Sinto que também eu tenho que me pirar.
Para já ainda não sinto a necessidade de ter que partir, mas se a vida assim obrigar sentiria aterrador essa decisão, ao sentir-me forasteiro num lugar que não conhecia ninguém.
(Crixus, não conhecia a tua faceta poética!!! )
Crixus- Sócio APVIPRE
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