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Sou cristão agnóstico, ateu e apateísta

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Sou cristão agnóstico, ateu e apateísta Empty Sou cristão agnóstico, ateu e apateísta

Mensagem por Kristy123 Qua Jun 02 2021, 11:25

Sou cristão agnóstico, ateu e apateísta

Sou cristão agnóstico, ateu e apateísta. Desculpe, importa-se de repetir…?

Há uns poucos anos atrás, decidi desfiliar-me da religião em que cresci e em que passei a maior parte da minha vida adulta. As Testemunhas de Jeová são uma comunidade religiosa de matriz cristã, com uma visão absolutista das suas crenças - elas advogam que são a única via para a compreensão “correta” dos textos sagrados da Bíblia, o único porta-voz do Deus criador Yahweh na terra, a única organização religiosa aprovada por Cristo como veículo de salvação para os seres humanos.

Concordemente, todas a outras religiões ou entendimentos espirituais acerca do cosmos simplesmente estão erradas e são instrumentos utilizados pelo Diabo para desviar a humanidade do conhecimento verdadeiro a respeito de Deus. A humanidade caminha rapidamente para um cataclismo chamado Armagedom, um ajuste de contas de Deus com a humanidade infiel e com o mentor dessa infidelidade, Satanás, e a única forma de alegadamente escapar a esse julgamento terrível é juntar-se ás Testemunhas de Jeová.

Com o adeus á religião organizada, vieram também uma série de reflexões acerca da minha própria visão do mundo. Qual é o meu lugar aqui? Em que é que eu acredito, realmente? Preciso de uma “espiritualidade”? Quais são os meus valores?

Ao aprofundar o meu estudo das raízes históricas da literatura e cultura judaica-cristã que acabou por ser incorporada naquilo a que chamamos de “Bíblia”, tanto mais constatava duas realidades: A primeira, que Yahweh (“Jeová”), longe de ser uma divindade atraente, era um ser mesquinho, arbitrário, despótico, manipulador, narcisista - na realidade, um monstro moral. A segunda, que o retrato de Yeoshua (Jesus), o pregador radical judeu, conforme apresentado pelos evangelhos e pela literatura canónica, está quase tão distante da realidade como o Batman da DC Comics está da realidade.

Quanto mais progredia na minha investigação, tanto mais me aproximava das teses defendidas por ateus e agnósticos. Descobri também um termo pouco conhecido, “apateísmo”. Inicialmente, pensei simplisticamente que o agnosticismo era uma espécie de degrau que antecedia o ateísmo. Como muitas pessoas, julgava que ser agnóstico significava não ter a certeza a respeito da existência de divindades, ao passo que ser ateu era ter a certeza da inexistência de divindades. Muitos ateus desdenham dos agnósticos, chamando-os de “ateus envergonhados”, porque supostamente não são capazes de assumir plenamente as consequências da sua dificuldade em acreditar em divindades.

Avaliando a minha situação, cheguei a uma conclusão: Estas quatro proposições: cristão, agnóstico, ateu e apateísta não são mutuamente exclusivas, podem coexistir na mesma pessoa sem se contradizerem. Isto é assim porque são preposições acerca de assuntos diferentes.

O agnosticismo é uma posição espistemológica quanto ao conhecimento: Eu não sei, eu não posso saber, se uma divindade existe ou não. Excepcionando os casos de esquizofrenia, em que um indivíduo realmente pode ouvir vozes dentro da sua cabeça, algumas delas presumindo ser “deus” ou “Jesus” ou um “anjo” ou um “demónio”, a única forma de percepção de uma realidade divina é através da fé. Ora, a fé, não é conhecimento. “Conhecimento” é aquilo que pode ser apreendido por qualquer pessoa em condições semelhantes. Várias pessoas olhando para um copo com água podem afirmar várias coisas diferentes acerca das características do copo e da água e da relação entre ambos, e da relação destes com o mundo á sua volta, mas todos podem concordar que estão a ver um copo contendo água.

Podem efectivamente conhecer um copo com água. Não necessitam de fé para chegar a conhecer o copo com água. O copo e a água são coisas observáveis, mensuráveis, e cuja experiência pode ser repetivel com idênticos resultados em qualquer parte do planeta, por qualquer pessoa. Ora, para o agnóstico, este tipo de conhecimento não se aplica ás divindades. Estas só podem ser “percepcionadas” através da experiência da fé. E a fé é algo de intensamente pessoal, que pode ser partilhada por uma inteira comunidade de indivíduos, mas não implica “conhecimento” empírico do seu objecto.

Por isso, biliões de pessoas têm fé em divindades que nunca viram, ouviram ou tocaram directamente. O anti-teísta é aquele que afirma saber que divindades não existem. Essa proposição coloca desde logo uma dificuldade epistemológica enorme, que é a de provar a não-existência, ou a impossibilidade absoluta da existência de algo. Não digo que seja impossível, mas acho muitíssimo difícil. No entanto, não é por ser impossível provar a não-existência de algo, que fica demostrada a sua existência. Esse tipo de argumento teísta é obviamente falso.

Já o ateísmo é uma posição quanto á crença. O ateu afirma que não tem uma crença em divindades. Ao contrário do anti-teísta, o ateu não faz qualquer afirmação sobre a existência de divindades. Ele simplesmente afirma que, não dispondo de evidência credível que suporte existência de divindades, a melhor decisão é não assumir uma crença na sua existência, conduzindo a sua vida na premissa da ausência de divindades. Desta forma, um ateu pode (e normalmente é) simultaneamente um agnóstico.
O apateísta é, por definição, apático com relação á existência de divindades. O apateísta posiciona-se com indiferença face á existência ou não de divindades. Quer elas existam, quer não, isso é inconsequente com a forma como leva a sua vida.

Pessoalmente, não posso saber se alguma divindade criadora existe ou alguma vez existiu. O que sei é que, a existir, essa divindade não será necessariamente bondosa (porque não age para eliminar o mal e o sofrimento da humanidade), ou não necessariamente se interessa pela humanidade (pode ter dado início á vida e depois foi fazer outras coisas para outra parte do universo). Em qualquer dos casos, essa divindade, quer não existindo, quer não se interessando pelos humanos, ou não sendo bondosa, não merece a minha adoração. Qualquer membro da minha família ou dos meus amigos, até um animal de estimação, me merecem mais estima do que uma divindade inexistente, má ou ausente. Certamente, a personagem da mitologia judaico-cananéia que conhecemos como “Yahweh” (Jeová) nunca existiu, e, ainda que alguma vez pudesse ter existido, seria um personagem horrível, do qual eu desejaria ter a maior distância possível.

E quanto a ser cristão? Embora o debate histórico continue, parece inteiramente plausível que “Jesus” tenha efectivamente sido um personagem histórico, e não uma total invenção dos seus seguidores. Mas, o que é que realmente podemos saber acerca de Jesus fora dos relatos devocionais da literatura dita “sagrada”? Muito pouco, na realidade. Podemos saber que Yeoshua ben Yosuff foi um pregador carismático e apocalíptico de uma interpretação radical e ultraconservadora do judaísmo; que viveu durante o primeiro século e que se originou da Galiléia; que foi morto pelos romanos durante o consulado de Pôncio Pilatos, sob a acusação de sedição. Apenas estes parecem ser factos indisputáveis acerca do personagem histórico.

Pessoalmente, não acho que seja suficientemente impressionante para mudar a minha vida. Mas o que é mais interessante é o que os seguidores deste pregador judeu vieram a acreditar a respeito dele. É talvez o caso mais interessante de construção de uma mitologia e filosofia á volta de um personagem histórico. Histórias a respeito de um nascimento virginal, uma ressurreição dos mortos e milagres de toda a espécie foram acrescentadas durante a segunda metade do primeiro século e durante o segundo século. Frases, discursos inteiros foram colocados na boca de Jesus á medida que algumas tradições orais que algumas comunidades de seguidores de Jesus foram compondo os seus evangelhos. Paulo revolucionou o “movimento de Jesus”, transformando-o no “movimento do Cristo”. Da religião de Jesus (uma variação do judaísmo) chegamos á religião acerca do Cristo (com os seguidores de Paulo), em que Jesus é identificado com o exaltado Cristo, um ser com uma existência pré-humana e pós-humana, que acaba por ser exaltado á posição de Deus. Tudo isto é fascinante, mas não é menos mitologia do que o panteão cananeu, babilónico, grego ou nórdico. Cristo é decalcado das religiões místicas mediterrâneas dos cultos de Mitra e de Ísis.

O que, do meu ponto de vista, é verdadeiramente interessante, é o conjunto de valores que emergem das discussões teológicas volta da personagem do Cristo. Em particular, a visão da comunidade que produziu o lindíssimo evangelho de João. Pouco importa se Jesus existiu ou não; pouco importa se o seu nascimento era virginal ou não, ou sequer se ressuscitou dos mortos. Pouco importa se era filho de algum deus ou se tornou num deus. Tudo isso é de somenos importância quando comparado com o valor da filosofia cristã que se desenvolveu ao longo de quase dois milénios após a suposta passagem pela terra do Cristo. Alguns valores universalistas promovidos pelo cristianismo são inteiramente válidos nos nossos dias e podem ser perfeitamente assumidos por alguém que é simultaneamente agnóstico, ateu e apateísta. Seguramente, o cristianismo não é o único caminho para valores como a solidariedade, a justiça social, a valorização da vida, a compaixão. Há outros, e estes não dependem exclusivamente de qualquer espiritualidade. Mas, ainda que fundado numa mitologia sem aderência á realidade, o cristianismo, enquanto filosofia de vida, oferece um conjunto  viável de valores em torno dos quais o indivíduo pode organizar a sua vida. E são valores que eu posso aceitar, desde que separando daqui as patetices de absolutismo religioso advogadas por religiões como as Testemunhas de Jeová.

E assim, posso dizer, sem medo de me contradizer: sou cristão, agnóstico, ateu, e apateísta.

Texto de Ricardo Pimentel
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