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Excertos de literatura, Poesias e Pensamentos.

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Excertos de literatura, Poesias e Pensamentos. - Página 3 Empty Re: Excertos de literatura, Poesias e Pensamentos.

Mensagem por Condor Qui Jan 03 2013, 15:05

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode recomeçar agora e fazer um novo fim" - Chico Xavier

Acho que se encaixa na perfeição em qualquer um de nós sobreviventes da seita STV.

Um abraço.
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Mensagem por Fidel Apostate Ter Jan 08 2013, 08:25

Gostaria de colocar aqui as palavras desta senhora de um mail que recebi hoje:

Escrito por Regina Brett, 90 anos de idade, assina uma coluna no The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.


"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou.
É a coluna mais solicitada que eu já escrevi."

Meu hodômetro passou dos 90 em agosto, portanto aqui vai a coluna mais uma vez:

1.. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus, Ele pode suportar isso.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você..

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo..

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

Estima-se que 93% não encaminhará isto. Se você for um dos 7% que o farão, encaminhe-o com o título 7%.

Aproveite a vida e seja feliz!!!!


Abraço a todos,
Fidel
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Mensagem por Kevin Keller Ter Jan 08 2013, 19:07

Sou um fã do poeta árabe Jalal al-Din Rumi (séc XIII)

A dor que atraímos
transforma-se em alegria.
Vem, tristeza, aos nossos braços
- somos nós o elixir dos sofrimentos.
O bicho-da-seda come as folhas
e faz seu casulo.
Não possuímos a folhagem desta terra
- somos nós o casulo do amor.
Apenas somos
quando em nada nos tornamos.
É quando perdemos nossas pernas
que nos tornamos corredores.
Calo minha boca.
Direi o resto do poema
de boca fechada.
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Mensagem por Maurício Silva Qui Jan 10 2013, 08:48

Pessoalmente sempre gostei imenso de Tomas Tranströmer, um poeta sueco que aborda a poesia de uma forma muito aberta. Aqui deixo um poema, denominado "O Casal" e deixo a interpretação para quem quiser sentir-se na pele deste "casal".


O Casal

Eles desligaram a luz e o seu globo branco brilha
um instante e depois dissolve-se, como um comprimido
num copo de escuridão. Depois a ascensão.
As paredes do hotel elevam-se na escuridão do céu.

Os seus movimentos crescem mais suaves, e eles dormem
mas os seus pensamentos mais secretos começam a conhecer-se como duas cores que se conhecem e correm juntas no papel molhado de um desenho do rapaz da escola.

É o escuro e o silêncio. A cidade no entanto está mais próxima esta noite. Com as suas janelas fechadas.
As casas vieram.
Eles permanecem embalados e esperam muito próximo,
uma multidão de gente com faces em branco.

Tomas Tranströmer
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Mensagem por mjp Dom Mar 03 2013, 00:52



Reflitamos em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real. Surja à luz a íntima corrente tanta vez soterrada e nela nos banhemos. Aprendamos a chamar irmão ao nosso irmão e façamos apelo ao nosso maior esforço para que se não quebre a atitude fraternal, para que se não perca o dom de amor, para que se não cerre o coração à mais perfeita voz que nos chama e solicita.

Não os queremos trazer ao nosso grémio nem ingressar no deles; apenas desejamos que da melhor compreensão entre uns e outros, do conhecimento das essências, se erga a morada de um Pai que não distingue entre os eleitos e a todos por igual protege e incita; cada um ficará em sua lei; só pretendemos que não tome os de leis diferentes por implacáveis inimigos ou por almas perversas e perdidas; são homens como nós e vão-se dirigindo ao mesmo fim; desde já os vejamos como futuros companheiros.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'
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Mensagem por mjp Seg Mar 04 2013, 11:44

Carta de Abraham Lincoln ao professor de seu filho.

"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.
Ensine-o, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.
Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.
Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho. Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor."


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Mensagem por MariaL Seg Mar 04 2013, 16:01

mjp escreveu:Carta de Abraham Lincoln ao professor de seu filho.

"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.
Ensine-o, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.
Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.
Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho. Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor."



Muito bom!
Desafio para pai, professor ou para ambos?
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Mensagem por mjp Seg Mar 04 2013, 16:05

Para o pai, professor e... mais importante, se possível, para o aluno. Afinal é para o aluno e em todo o aluno que a sociedade, como um todo, investe.
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Mensagem por António Madaleno Seg Mar 04 2013, 18:44

Poderoso texto de José Gil na revista Visão. Ninguém faz retratos da sociedade portuguesa tão perfeitos como o autor do genial O Medo de Existir:

"Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente.

Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro. O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras:
sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias borderline enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores.

Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens). O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público.

Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.

Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo.

Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si. Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."
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Mensagem por mjp Qua Mar 06 2013, 01:01

Auto-retrato português




Nesga humana de um grande mapa humano,

Aqui, a ocidente e ao sol, dormito;

O manto do infinito

Veste-me a pequenez;

E o mar cerúleo, aberto à minha ilharga,

Alarga

O meu nirvana azul de português.




Rei que renunciou, cansado,

Ao ceptro da aflição,

Digo não,

Digo sim,

Com igual abandono…

Tão distante de mim

Como do trono…




Vivi antes da hora o que vivi.

E, agora, vegeto,

Feliz de nada ser,

De nada desejar,

E de nada sentir,

Agradecido ao mar de nunca acordar,

E agradecido ao céu de sempre me cobrir.


Torga, Miguel, in “Colóquio/Letras” n.º 10, Novembro de 1972, Fundação Calouste Gulbenkian
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Mensagem por Sara Mel Qua Mar 06 2013, 14:35

Li este texto há 20 anos. Foi aqui o meu ponto de partida para começar a questionar o me que rodeava e a duvidar do sentido da minha vida. Especialmente a parte final, a que questiona directamente a sua interlocutora, foi o que mexeu comigo e nunca mais o esqueci… decidi partilhá-lo convosco…
______________________________________________________________________


Perdoa-me esta insolência e recebe esta flor. Perdoa-me por te querer e seres tão impossível. A maneira como ambos trememos torna tudo difícil. Como posso deixar de pôr em causa os valores que tens enfornados. Dentro desse teu ego. Condeno o teu mundo. Procuro quem racionalize sobre ele. Ninguém o compreende. Vil façanha a tua. Olhava para ti no café. Pergunto-me como podemos virar as costas um ao outro. Olha para mim. O que vês é o que ganhas. Como te perdes em ideias absurdas. Nunca escrevi sobre o que sinto, por ser incapaz de o escrever ou de o sentir. Olha para mim agora escrevo sobre algo que não sinto e que à força quero. Condena-me por lutar contra preconceitos racistas e por aquilo que quero? Condena-me o teu negro deus, ou alguém por ele? Doce tentação que desperta. Águas turvas que enchem a alma. Se ao menos fosse eu que me tentasse com pressupostos morais. Viva eu, que livre disso, olho todos como a mim mesmo, pelo que são. Nobre liberdade conquistada na alma que sou. Insignificante liberdade presa, que por falta de ti espera latente, diferentes olhos que não são nem meus nem teus. Olhos verdes esses, por aí perdidos, possíveis melhores, possíveis fáceis. Troca-me, tu, o sangue por vinho, que não sou capaz de tal barbaridade. Logo tu que me prendeste a alma e o pouco coração que tenho para dar.
Se deixo de lado os preconceitos que tenho contra as tuas ideologias hipócritas e infiéis, correndo risco óbvio de ser rejeitado pelos meus iguais, porque não podes tu também? Quando caio de joelhos, levanto-me por saber inútil a tua filosofia. Nego-te a possibilidade de te redimires depois. Que o presente é o que vale. Rejeito histórias palermas de quem não evoluiu e ter quer trazer para baixo. Nunca pensei fazer tanto por tão pouco. Esta não é a minha luta, esta seria a minha felicidade, por pouco tempo que fosse. Quem vai ter contigo ao lago que te mostrei? Quem te vai sentir á noite? Quem vai ouvir a música que escolheres e secar o suor quando amares? Alguém que vale pelo teu deus? Não vês que quero levantar-te no ar. Vontade tenho por vezes em matar todos que pensam como tu e deixar-te então sozinha como Cristo no deserto. Saciar a fome de sangue quente. Enterrar esta impotência nos corações iguais ao teu e deixar gritar essas bocas. Deitar depois lindas flores em suas campas. Olhar para ti como quem olha para o fruto proibido e saber que ninguém mais apontará meu corpo o infiel. Meu pai, por o ser, quer-me adulto e capaz de seguir o meu caminho. Vê se compreendes. Pega nessa flor que te dei, olha para ela à noite quando vacilares entre a felicidade e o pecado. Que escolheu Eva? Achas que pecou ao assumir a condição humana? Negavas a vida? Palerma existência inútil, valorada não pela carne. Ouve agora um desses órgãos de Igreja, tocando bem alto, uma música fria no escuro de um deserto. É onde te vejo. Basta que te levantes e grites o meu nome. Treme quando me olhares bem fundo nestes meus olhos, estes que pecam quando passas diante deles. Ignoro ainda a verdadeira razão, aquela pela qual não nos olhámos de diferente maneira. Perguntei aí alguém quem luz deitasse sobre o assunto. Ninguém sabia dizer. Se calhar pecar é mais fácil que isso. É que a mim deixam tudo. Até a minha consciência. Valho por ela e orgulho-me disso. É tudo o que vejo nesta flor que te deixo. Por ser minha para ti. Não a acho nada demais, somente por ser a terceira a quarta que ofereço. E quero que te tornes feliz por ela que morreu na minha mão para te agradar. Como vez, acredito mesmo que até da própria morte se tira uma felicidade. Tomara eu flor para te embelezar. Não tive essa sorte. Por isso invejo esta simples flor que te dou, por ela se tornar tua, acima de qualquer deus que possas ter. Ela por ser simples, e se soubesse o que quero, de bom grado trocava comigo os lugares que o meus deus destinou para mim e para ela. Troca agora o órgão de há pouco por um acordeão francês tocado por um velho de boina. Na verdade, é a calmia que ele transmite que me enche a alma com estas pobres palavras que te escrevo. É bem mais feliz, esse velho, que nós os dois, que ele tem o que ama e o que aprendeu amar, ao contrário de nós outros que estamos sujeitos à mão pesada da divindade. Os parágrafos esbatem-se na folha branca. Nunca gostei muito de os fazer, por isso escrevo um único parágrafo apenas, que a alma é uma só. A pequena flor continua ao pé de ti? Se fosse ela a ler-te este texto, choraria contigo porque te faço doer. Mas não é ela e magoa por teres de chorar sozinha. Não é magoar-te que quero mas sinto que o faço e apesar de tudo não posso parar, apesar de estar tudo dito sempre há algo de novo que aparece. Acredito ainda que estás errada naquilo que acreditas e custa a crer que alguém como tu não veja isso. Como pode? Nem deus nem eu te queremos sofrendo. Nem mesmo essa flor. Mas enquanto existirmos os três, pelo menos aos teus olhos, verás uma felicidade que poderias ter agarrado. Não levantei os olhos para perguntar se deus alinhava comigo nesta cruzada contra o teu niilismo. Também não olhei para baixo para perguntar á flor. A flor assumiu um papel que há muito lhe negavam e deus é meu pai, que apesar de ter feito pouco do que lhe pedi, é de certeza mais e melhor pai que o teu deus. E isso sente-se. Á flor nunca mais vejo, viverá sempre que me lembrar de ti. A deus verei quando eu estiver pronto. Ambos me perdoaram a ousadia de os usar egoisticamente. Olho-me no espelho, não queria mas tive de me olhar. Vejo um menino, de calças cumpridas sentado no lago onde imaginou o teu corpo. Está calmo chapinhando na água morna, tem uma flor no cabelo, estranho para um rapaz, mas ele não se importa. Não tem música, não tem luz, não tem nada que o faça levantar dali. Lembro-me de ir ter com ele, pego-lhe, dou-lhe um beijo e adormecemos os dois. Somos o sonho um do outro. Advinha quem esperamos! O lago enche-se de flores todas diferentes, nenhuma como a te dou agora. Nunca significou tanto uma flor, não é só por ser para ti mas por ser tua. É que não sei como pegar nela, nem como a te hei-de dar, por serem as duas tão delicadas e tão belas. Acima de tudo nenhuma minha. A divina presença reclama o que lhe pertence. Já levo mais de duas horas neste sonho que se mantém mais vivo que a própria mente que o cria. Ganhou vida própria e escapa-me pelas mãos, pelo bico desta pena com que escrevo. Sinto-me Cirano de Belgerac mas sem aquele majestoso nariz que enverga. Apesar de tudo que dele diziam, teimava em escrever a quem amava. A mim falta-me o amor e a paixão que aquecem sempre uma carta. Procurei criar um amor por ti mas soube-me a plástico. É que sente ou não se sente. Mas alguém não deixa. Conheço-me cada vez mais. Olho-te como quem ama de longe porque é feio amar. Mas que importa a dor. O mar não chora a onda que parte. Porque hei-de eu chorar se nem te tive? Promete que me tens como algo bom, algo que possa servir de alguma coisa. Algo que, mesmo magoado, seja aceite. Admiro-te mais pela tua fé, que apesar de mal direccionada, me parece forma bastante de força interior. Mas será que não vês a importância da tua pessoa? Porque te anulas aos olhos de um deus horrendo? Ele, pelo menos o meu, não criou nenhum dos seus filhos para o manter fechado no quarto dos bebes negando-lhe o verdadeiro mundo e outras realidades. Eu sou livre porque o meu deus também o é, e a relação que com ele mantenho há muito, muito tempo ficou para além de um livro velho e uma tábua com mandamentos. Somos os dois, eu e ele, mais do que isso, graciosamente muito mais. Vivemos as nossas vidas sem exigirmos um do outro. Experiência maravilhosa e deliciosamente livre. Liberdade que tu negas, experiências de que tu foges e que eu não prometi nada, ofereci apenas um mundo que obviamente não conheces. Perdes o tempo de uma vida agarrada ao passado, á ideia que só vocês sabem a verdade. Pobres crianças que brincam com os bonecos da televisão. O que queres da vida? O que posso dar? Além desta flor, diz-me! O que esperas que a vida te traga? O que até agora foram dissabores salteados com pequenos momentos de glória? Não te dizes nada? Não te cansas, não gritas. Fuga dentro de uma religião que nem vale o esforço, que te corta as bases. Pena tenho que não consiga mudar de vez essa tua mente viciada que me repugna ver em tão lindos olhos azuis. Meu deus como lindos são. Que importa que não ganhe o céu. Que importa tudo se te prendes na metafísica divina que te impigem. Quase te digo que te amo, mas como posso? O céu é para se ir ganhando com vitórias e derrotas que a vida nos trás. Se não vives em pleno é justo que ganhes o céu só por pertenceres a essa seita que começo verdadeiramente a odiar? Que experiência levas desta vida? Recalcamentos de um deus menor? O que alguém como eu pode desejar mais que essa flor que te dei. Em consciência ser livre e feliz, e que a minha liberdade não diminua nunca a tua. Quero-te abalar o máximo porque te quero bem. Não te perdoou porque nem sou deus nem sou capaz, mas não te vou esquecer, que és agora o que quero. Tudo o resto são lindos campos de flores. É que os outros como eu também apanham flores para outras como tu. Confia em mim. Que o meu deus me perdoe se pequei.

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Excertos de literatura, Poesias e Pensamentos. - Página 3 Empty Re: Excertos de literatura, Poesias e Pensamentos.

Mensagem por António Madaleno Qua Mar 06 2013, 14:56

O texto é muito belo.

Gostei!

aplausos
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Mensagem por mjp Qua Mar 06 2013, 15:51

Fantástico DL. Deliciosa e maravilhosamente fantástico.
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Mensagem por Filino Rupro Qua Mar 06 2013, 15:57

Obrigado pela partilha.
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Mensagem por Ana Cláudia Qua Mar 06 2013, 16:55

DL,

muito obrigada pela partilha! Lindo!
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Mensagem por MariaL Qui Mar 07 2013, 10:04

Muito, muito bom! Obrigada por partilhares, DL! aplausos
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Mensagem por mjp Ter Abr 02 2013, 01:30

Bem,DL, este é o tal poema que te dedico, e que entre tantos outros e outras histórias que me contavam quando era eu ainda menino, sentado ao colo dos meus avós, me deram esta forma de ser e de sentir a vida: de me sentir a mim, aos outros e, sobretudo a Deus. Sim, porque não são só as TJ que dão estudos bíblicos aos filhos. Os católicos também se procupam, e muito, em transmitir aos seus filhos e netos aquilo que receberam como a verdade de Deus e que tem como objectivo a nossa salvação. E faziam-no sem Bíblia, mas com toda a essência da Bíblia, que é, afinal de contas, o amor de Deus pela humanidade, sublimado no envio do seu muito amado Filho, Jesus Cristo.

Aqui está o poema que ouvi vezes sem conta: amor, justiça e verdade, em versos simples e singelos como é habitual em João de Deus.

CRUCIFIXO

– Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela cruz?
– Aquele, filho, é Jesus...
É a santa imagem dele!

– E quem é Jesus? – É Deus!
– E quem é Deus? – Quem nos cria,
Quem nos manda a luz do dia
E fez a terra e os céus;

E veio ensinar à gente
Que todos somos irmãos
E devemos dar as mãos
Uns aos outros irmãmente:

Todo amor, todo bondade!
– E morreu? – Para mostrar
Que a gente pela verdade
Se deve deixar matar.


João de Deus


Eu não me devia expor tanto... mas somos "ex-irmãos" e eu dou um desconto por causa disso.
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Mensagem por Sara Mel Ter Abr 02 2013, 10:00

mjp escreveu:Bem,DL, este é o tal poema que te dedico, e que entre tantos outros e outras histórias que me contavam quando era eu ainda menino, sentado ao colo dos meus avós, me deram esta forma de ser e de sentir a vida: de me sentir a mim, aos outros e, sobretudo a Deus. Sim, porque não são só as TJ que dão estudos bíblicos aos filhos. Os católicos também se procupam, e muito, em transmitir aos seus filhos e netos aquilo que receberam como a verdade de Deus e que tem como objectivo a nossa salvação. E faziam-no sem Bíblia, mas com toda a essência da Bíblia, que é, afinal de contas, o amor de Deus pela humanidade, sublimado no envio do seu muito amado Filho, Jesus Cristo.

Aqui está o poema que ouvi vezes sem conta: amor, justiça e verdade, em versos simples e singelos como é habitual em João de Deus.

CRUCIFIXO

– Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela cruz?
– Aquele, filho, é Jesus...
É a santa imagem dele!

– E quem é Jesus? – É Deus!
– E quem é Deus? – Quem nos cria,
Quem nos manda a luz do dia
E fez a terra e os céus;

E veio ensinar à gente
Que todos somos irmãos
E devemos dar as mãos
Uns aos outros irmãmente:

Todo amor, todo bondade!
– E morreu? – Para mostrar
Que a gente pela verdade
Se deve deixar matar.


João de Deus


Eu não me devia expor tanto... mas somos "ex-irmãos" e eu dou um desconto por causa disso.

Que inveja MJP....

tens uma história rica!!! Eu não tive avós para fazer contra-peso a uma educação de redoma-de-vidro em que fui colocada, por várias razões!

Expõe-te até onde te sentires confortável, mas mostras um lado especial e não me dês desconto por eu ser uma "ex-irmã", dá-me o desconto porque percebes que sou boa rapariga Very Happy

Bom trabalho

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Mensagem por mjp Ter Abr 02 2013, 15:39

Refiro-me DL, a expor-me aqui, no fórum.

Mas, um pouco como Pessoa, com as devidas e longuíssimas distâncias:

"A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar."

"Fonte: - Livro do Desassossego


E já agora, este dedico a todas as nossas magníficas foristas:

Poz-te Deus Sobre a Fronte a Mão Piedosa

Poz-te Deus sobre a fronte a mão piedosa:
O que fada o poeta e o soldado
Volveu a ti o olhar, de amor velado,
E disse-te: «vae, filha, sê formosa!»

E tu, descendo na onda harmoniosa,
Pousaste n'este solo angustiado,
Estrela envolta n'um clarão sagrado,
Do teu limpido olhar na luz radiosa...

Mas eu... posso eu acaso merecer-te?
Deu-te o Senhor, mulher! o que é vedado,
Anjo! Deu-te o Senhor um mundo á parte.

E a mim, a quem deu olhos para ver-te,
Sem poder mais... a mim o que me ha dado?
Voz, que te cante, e uma alma para amar-te!


Antero de Quental, in 'Sonetos'
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Mensagem por Sara Mel Ter Abr 02 2013, 16:40

mjp escreveu:Refiro-me DL, a expor-me aqui, no fórum.

Mas, um pouco como Pessoa, com as devidas e longuíssimas distâncias:

"A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar."

"Fonte: - Livro do Desassossego


E já agora, este dedico a todas as nossas magníficas foristas:

Poz-te Deus Sobre a Fronte a Mão Piedosa

Poz-te Deus sobre a fronte a mão piedosa:
O que fada o poeta e o soldado
Volveu a ti o olhar, de amor velado,
E disse-te: «vae, filha, sê formosa!»

E tu, descendo na onda harmoniosa,
Pousaste n'este solo angustiado,
Estrela envolta n'um clarão sagrado,
Do teu limpido olhar na luz radiosa...

Mas eu... posso eu acaso merecer-te?
Deu-te o Senhor, mulher! o que é vedado,
Anjo! Deu-te o Senhor um mundo á parte.

E a mim, a quem deu olhos para ver-te,
Sem poder mais... a mim o que me ha dado?
Voz, que te cante, e uma alma para amar-te!


Antero de Quental, in 'Sonetos'

Eu tinha percebido que era no forum MJP...

e o soneto, tal como a música, vai de encontro ao bom gosto e ao génio de alguns espécimes humanos Very Happy

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Mensagem por mjp Qui Abr 04 2013, 17:00

A Morte o Amor a Vida

Julguei que podia quebrar a profundeza a
[imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisão de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor da cinza
A solidão pareceu-me mais viva que o sangue

Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro
[nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mãos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anula

Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de
[estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente
[para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava
[as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia à aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava húmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituía a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros
[tempos

Os campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara e a vindima têm inúmeras testemunhas
Nada é simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noite

A floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas têm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
Têm filhos que se tornarão pais dos homens
Têm filhos sem eira nem beira
Que hão-de reinventar o fogo
Que hão-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos.


Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa


Do melhor que li nos últimos tempos.
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Mensagem por Sara Mel Qui Abr 04 2013, 17:26

Muito bom .... muito bom mesmo!!!!

D.

(vou ler mais uma vez )
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Mensagem por Filino Rupro Qui Abr 04 2013, 17:27

Absolutamente soberbo!
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Mensagem por mjp Qui Abr 04 2013, 17:34

O Homem Materializou-se e Corrompeu-se

Que tem feito a sociedade há três séculos a favor da parte moral do homem? Nada, querer iluminar o homem, tirar-lhe ilusões. E tiradas essas ilusões, que sucedeu? O homem materializou-se, e a sociedade corrompeu-se. Vejamos que progressos materiais obtivemos nesses três séculos: obtivemos as aplicações do vapor, a química fêz passos de gigante, as ciências naturais chegaram quási à perfeição, os resultados científicos e artísticos simplificaram-se, inventou-se o galvanismo, o telégrafo eléctrico, a fotografia, desapareceram as distâncias, o comércio reina dominador sôbre todos, somos engolfados em prosperidade material, e ao mesmo tempo somos muito infelizes.

Dom Pedro V, in 'Escritos de El-Rei D.Pedro V'

Bem podem cantar ao vento, somente alcançando ecos em cabeças ocas e corações vazios, os propagandistas da prosperidade material e da verdade, essa então, dissecada tão somente na ponta do bisturi. Se a prosperidade material é, ainda por cima, uma mentira tão fortemente contrastada a preto e branco, numa revelação tão nítida como as barrrigas dilatadas pela fome em crianças inocentes, em mulheres de lágrimas enegrecidas pela dor e pela raiva e de homes em atrozes desesperos de alma pelos seus, a verdade na ponta do bisturi e, somente essa sem mais nenhuma, só tem servido a quem de alguma forma tira lucro injusto de tão abjectos dogmas.

Em mim, tais propagandistas, encontrarão sempre um figadal inimigo. Aonde querem esses chegar, desde há muito que o vislumbro mas, contudo, é pelos que ainda de tais terríveis pragas se não aperceberam, com quem ainda me preocupo.
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Mensagem por Sara Mel Dom Abr 07 2013, 13:02

Um poema que adoro dos muitos que gosto de Neruda!

Dedico a todos que não tem vergonha de rir alto e sem pudor! Very Happy

D.


O Teu RisoTira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda
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