Igreja (entre)abre porta a divorciados
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Igreja (entre)abre porta a divorciados
Próximo Sínodo dos Bispos será de 4 a 25 de outubro. Documento preparatório foi divulgado esta terça-feira: abertura a recasados e divorciados católicos contrasta com as indicações para os casamentos homossexuais. Reservas face à contracepção e à procriação medicamente assistida mantêm-se
É o documento preparatório do próximo Sínodo, que o Papa convocou para debater os desafios da família nos tempos modernos. Depois da experiência do ano passado, em que a discussão se acendeu e impossibilitou o encerramento dos trabalhos, está agora marcado para o mês de outubro a segunda fase do debate. Todos esperam uma conclusão que, na verdade, pode não agradar a todos o que contavam com uma revolução na Igreja.
Esta terça-feira de manhã, no Vaticano, o cardeal italiano Baldisseri, que é o secretário-geral do Sínodo, fez questão de sublinhar que toda a discussão mantida até agora contribuiu para um "enriquecimento temático". O facto de as conferências episcopais terem sido chamadas a contribuir para este debate e de terem sido reservadas mais três semanas para discussão no novo sínodo, não quer dizer que as conclusões estejam na mão da maioria. "A assembleia sinodal é um espaço de diálogo e não um Parlamento", disse o cardeal. O aviso fica dado: a Igreja não funciona como uma democracia. A última palavra continua a ser de uma só pessoa: o Papa.
Francisco sabe que pôs o dedo na ferida. A família, que a Igreja classifica como "escola da humanidade", está a sofrer transformações e uma crise sem precedentes a que os católicos têm de saber dar resposta. Qual será a resposta é que se torna um problema. Desde logo porque à luz da doutrina, o casamento não é um contrato, mas um sacramento. E disso a Igreja, seguramente, não está disposta a abrir mão. O documento divulgado esta terça torna isso mesmo claro. A Igreja assume que "para os batizados não há outro vínculo nupcial a não ser o sacramental e que cada rutura do mesmo é contrária à vontade de Deus". À luz do Evangelho, prossegue o texto, "torna-se credível a beleza do matrimónio indissolúvel e fiel para sempre".
Confirmado este ponto de partida, os apelos do Papa a uma Igreja que seja misericordiosa e não "uma câmara de tortura" não passaram, porém, despercebidos. Os responsáveis da Igreja admitem olhar para "a fragilidade de muitos dos seus filhos que encontram dificuldades no caminho da fé" e até definem como meta o acompanhamento "com misericórdia e paciência" de muitas situação de 'casamentos' não-canónicos. Os bispos não têm medo das palavras. Referem-se diretamente à "realidade dos matrimónios civis entre um homem e um mulher, aos matrimónios tradicionais e, tendo em conta as devidas diferenças, também às convivências". Em todos este casos, "quando a união alcança uma estabilidade notável através de um vínculo público, é conotada por um afecto profundo, pela responsabilidade em relação à prole e pela capacidade de superar as provações, pode ser vista como uma ocasião que deve ser acompanhada".
A abertura às uniões de facto ou aos chamados recasados (novos casais, divorciados de um matrimónio católico) é um avanço doutrinal. Os bispos querem delegar nas paróquias e nas dioceses a tarefa de acompanhar os casais que queiram permanecer na Igreja, admitem até criar "centros de escuta especializados" e uma espécie de gabinetes que esclareçam sobre a possibilidade de anulação dos matrimónios já celebrados. A palavra de ordem passa agora a ser "acompanhamento". Mas também "discernimento atento" ou "um acompanhamento de grande respeito" entraram no léxico para responder aos apelos de misericórdia deixados pelo Papa Francisco.
Para os recasados e divorciados vai ainda um sinal de abertura, que não fica completamente esclarecido. No documento assume-se que o acesso destes católicos aos sacramentos da penitência e da eucaristia foi já francamente debatido no Sínodo anterior. "Esta questão ainda deve ser aprofundada, tendo perfeitamente presente a distinção entre a situação objetiva do pecado e circunstâncias atenuantes", afirmam. A discussão irá prosseguir.
Fechado, porém, está o debate sobre os casamentos homossexuais. Houve dúvidas no anterior Sínodo. E até bastante debate. Mas "não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família", lê-se no documento. Os "homens e mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza". O seu casamento é que não. Aliás, "é totalmente inaceitável que os pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres à introdução de leis que instituam o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo", avisam os responsáveis da Igreja.
A mesma falta de evolução doutrinal parece registar-se no capítulo sobre a "transmissão da vida e o desafio da diminuição da natalidade". Menos direto, o texto toca duas questões sensíveis, seja a da contracepção, seja a da procriação medicamente assistida, sem mostrar abertura para grandes mudanças. O princípio de "abertura incondicional à vida" que estrutura o pensamento católico não dá grande margens de manobra. "É sobre esta base que pode apoiar-se um ensinamento adequado a respeito dos métodos naturais para a procriação responsável", repetem, à luz do que sempre foi a doutrina canónica. Como para os casos de infertilidade ou mesmo de esterilidade. A resposta está na "adopção de crianças, orfãs e abandonadas, recebidas como se fossem filhos naturais". É "uma forma específica de apostolado familiar", diz o documento. E mais não adianta.
http://expresso.sapo.pt/politica/2015-06-23-Igreja--entre-abre-porta-a-divorciados
É o documento preparatório do próximo Sínodo, que o Papa convocou para debater os desafios da família nos tempos modernos. Depois da experiência do ano passado, em que a discussão se acendeu e impossibilitou o encerramento dos trabalhos, está agora marcado para o mês de outubro a segunda fase do debate. Todos esperam uma conclusão que, na verdade, pode não agradar a todos o que contavam com uma revolução na Igreja.
Esta terça-feira de manhã, no Vaticano, o cardeal italiano Baldisseri, que é o secretário-geral do Sínodo, fez questão de sublinhar que toda a discussão mantida até agora contribuiu para um "enriquecimento temático". O facto de as conferências episcopais terem sido chamadas a contribuir para este debate e de terem sido reservadas mais três semanas para discussão no novo sínodo, não quer dizer que as conclusões estejam na mão da maioria. "A assembleia sinodal é um espaço de diálogo e não um Parlamento", disse o cardeal. O aviso fica dado: a Igreja não funciona como uma democracia. A última palavra continua a ser de uma só pessoa: o Papa.
Francisco sabe que pôs o dedo na ferida. A família, que a Igreja classifica como "escola da humanidade", está a sofrer transformações e uma crise sem precedentes a que os católicos têm de saber dar resposta. Qual será a resposta é que se torna um problema. Desde logo porque à luz da doutrina, o casamento não é um contrato, mas um sacramento. E disso a Igreja, seguramente, não está disposta a abrir mão. O documento divulgado esta terça torna isso mesmo claro. A Igreja assume que "para os batizados não há outro vínculo nupcial a não ser o sacramental e que cada rutura do mesmo é contrária à vontade de Deus". À luz do Evangelho, prossegue o texto, "torna-se credível a beleza do matrimónio indissolúvel e fiel para sempre".
Confirmado este ponto de partida, os apelos do Papa a uma Igreja que seja misericordiosa e não "uma câmara de tortura" não passaram, porém, despercebidos. Os responsáveis da Igreja admitem olhar para "a fragilidade de muitos dos seus filhos que encontram dificuldades no caminho da fé" e até definem como meta o acompanhamento "com misericórdia e paciência" de muitas situação de 'casamentos' não-canónicos. Os bispos não têm medo das palavras. Referem-se diretamente à "realidade dos matrimónios civis entre um homem e um mulher, aos matrimónios tradicionais e, tendo em conta as devidas diferenças, também às convivências". Em todos este casos, "quando a união alcança uma estabilidade notável através de um vínculo público, é conotada por um afecto profundo, pela responsabilidade em relação à prole e pela capacidade de superar as provações, pode ser vista como uma ocasião que deve ser acompanhada".
A abertura às uniões de facto ou aos chamados recasados (novos casais, divorciados de um matrimónio católico) é um avanço doutrinal. Os bispos querem delegar nas paróquias e nas dioceses a tarefa de acompanhar os casais que queiram permanecer na Igreja, admitem até criar "centros de escuta especializados" e uma espécie de gabinetes que esclareçam sobre a possibilidade de anulação dos matrimónios já celebrados. A palavra de ordem passa agora a ser "acompanhamento". Mas também "discernimento atento" ou "um acompanhamento de grande respeito" entraram no léxico para responder aos apelos de misericórdia deixados pelo Papa Francisco.
Para os recasados e divorciados vai ainda um sinal de abertura, que não fica completamente esclarecido. No documento assume-se que o acesso destes católicos aos sacramentos da penitência e da eucaristia foi já francamente debatido no Sínodo anterior. "Esta questão ainda deve ser aprofundada, tendo perfeitamente presente a distinção entre a situação objetiva do pecado e circunstâncias atenuantes", afirmam. A discussão irá prosseguir.
Fechado, porém, está o debate sobre os casamentos homossexuais. Houve dúvidas no anterior Sínodo. E até bastante debate. Mas "não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família", lê-se no documento. Os "homens e mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza". O seu casamento é que não. Aliás, "é totalmente inaceitável que os pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres à introdução de leis que instituam o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo", avisam os responsáveis da Igreja.
A mesma falta de evolução doutrinal parece registar-se no capítulo sobre a "transmissão da vida e o desafio da diminuição da natalidade". Menos direto, o texto toca duas questões sensíveis, seja a da contracepção, seja a da procriação medicamente assistida, sem mostrar abertura para grandes mudanças. O princípio de "abertura incondicional à vida" que estrutura o pensamento católico não dá grande margens de manobra. "É sobre esta base que pode apoiar-se um ensinamento adequado a respeito dos métodos naturais para a procriação responsável", repetem, à luz do que sempre foi a doutrina canónica. Como para os casos de infertilidade ou mesmo de esterilidade. A resposta está na "adopção de crianças, orfãs e abandonadas, recebidas como se fossem filhos naturais". É "uma forma específica de apostolado familiar", diz o documento. E mais não adianta.
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